FRIDA KAHLO - TODAS NÓS TEMOS FACES DE FRIDAS.

Postei em minha Página do Facebook, em 15 de Setembro:


Meninas, fui fazer uma pesquisa para fazer um resumo biográfico da vida de Frida Kahlo e...nunca tive tanta dificuldade em juntar tantas informações, tragédias, luta e garra. Meu respeito por essa grandiosa mulher aumentou em 100%. Logo farei uma postagem sobre ela. O que posso dizer por enquanto é. VERDADEIRA MULHER TOTAL. Não é a toa que inspira arte, moda, história, lugares, política, trajetória das mulheres, é homenageada, teve sua vida retratada em filme, entre tantas outros aspectos.

Não consegui. Ela, Frida, me envolveu totalmente. Não consegui separar fatos, me perdi. O que consegui, foi muito pouco:

Algumas homenagens e inspirações recebidas:

No álbum  Viva la Vida or Death and All His Friends  da banda Coldplay em 2008 o título  do mesmo é inspirado em um de seus trabalhos ( Viva La vida). Segundo o vocalista Chris Martin, o título foi escolhido devido ao otimismo de Frida, mesmo com os percalços percorridos pela artista, ao exaltar a vida no referido quadro. 



"Viva la vida"

Claudia Schiffer foi maquiada no desfile de  Karl Lagerfeld para se parecer ao máximo com Frida Kahlo.


É mencionada na canção Esquadros, de Adriana Calcanhoto.

É fonte de inspiração na moda nacional e internacional.

Propaganda de Loja de Jóias 

Inspiração em criação de vestido de noiva

Inspiração de roupas - Vogue México 2011

Quatro anos após a sua morte, sua casa familiar conhecida como "Casa Azul" transforma-se no Museu Frida Kahlo. Frida Kahlo, reconhecida tanto por sua obra quanto por sua vida pessoal, ganha retrospectiva de suas obras, com objetos e documentos inéditos, além de fotografias, desenhos, vestidos e livros. (Fonte: wikipédia)




ENTÃO...

Ofereço a vocês uma Resenha encomendada especificamente para este Blog e as Mulheres Totais que se interessarem em saberem quem foi-é Frida Kahlo.



Frida, Friducha
Escrito e sentido ao som de Alcoba Azul (Lila Downs)

Quarto Azul
A noite de nostalgia vai lentamente.
Haverá de ser um tango a nossa ferida.
Um acordeão sangrento, nossas almas.
Seremos, esta noite, todo o dia.
Volte para mim, ama-me sem luz.
Em nosso quarto azul, onde não havia sol para nós.
Cega-me.
Mata o meu coração em nosso quarto azul, meu amor.

O que vêm à mente quando se pensa em Frida: superação, dor, beleza, acidez, irreverência, borboletas... Quase sinônimos de seu nome.
Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón fez mais do que simplesmente nascer no dia 06 de julho de 1907, em Coyoácan, México: cumpria um destino, trágico e intenso.
Trágico, por um acidente aos 18 anos, em um bonde, enquanto sorria e, talvez, discutisse as ideias de Marx... Inúmeras cirurgias para realinhar sua coluna partida, ou refazer um pé esmagado, o abandono do primeiro amor, Alessandro. A impossibilidade da maternidade.
Intenso, ao conhecer Diego Rivera, que, segundo ela mesma, passou a habitar sua urina, sua loucura, seu sono, sua comida e doença. Foi com ele que conheceu o real significado da deslealdade.
Na saliva
No papel
No eclipse
Em todas as linhas
Em todas as cores
Em todos os jarros
Em meu peito
Fora. Dentro.
No tinteiro − nas dificuldades de escrever
No assombro de meus olhos. nas últimas
Linhas do Sol (o Sol não tem nenhuma linha) em tudo
Dizer “em tudo” é idiota e magnífico
DIEGO em minha urina DIEGO em minha boca − em meu
Coração e minha loucura. em meu sono − no
Papel mata-borrão – na ponta da caneta
Nos lápis − nas paisagens – na comida − no metal − na imaginação.
Nas doenças – nas vitrines −
Em suas lapelas − em seus olhos − em sua boca.
Em sua mentira[1]

A menina Frida tinha no pai, Guillermo, um fotógrafo, seu primeiro amor. Este a compreendia e aceitava sua rebeldia aos padrões. Com a mãe, um relacionamento conflituoso. Nem por isso, deixava de ser feliz, apesar de ter sido acometida por poliomielite, aos seis anos, o que lhe atrofiou o pé direito e ainda lhe rendeu o apelido Frida pata de palo (perna de pau).  Estudou desenho, modelado e técnica de gravura na Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México.
Sonhava, ainda jovem, com a revolução, pois não aceitava a miséria de muitos como natural. Bem por isso, dedicava-se à leitura dos escritos de Marx, dentre outros. Precisava lutar contra o “trivial, na aparência singelo, sobretudo o que parece habitual”, como diria Brecht.
Numa dessas tardes banais, com 18 anos, ao insistir em tomar um bonde que já perdera, Frida sofre um acidente que lhe causou quase todas as dores possíveis: fraturou a coluna (o que viria a ser retratado no seu quadro “Coluna Partida”), a clavícula e duas costelas. Sofreu três fraturas na pélvis, já que uma barra de metal a atravessou pelo quadril e saiu pela vagina, fato que a impossibilitou de ser mãe (o que foi retratado em alguns dos seus quadros, como “O Hospital Henry Ford”). Fraturou a perna direita em 11 lugares e teve o pé direito esmagado (dos quais perdeu os dedos depois, e, sobre isso, afirmou: “pés, para que preciso deles, se tenho asas para voar?”).

"Retablo"


Frida era vermelho e dourado. É mentira que a gente se dá conta da dor no momento da tragédia [...] Minha primeira reação foi procurar o bilboquê colorido que havia comprado naquele dia e caiu do meu colo. Não percebi que um pedaço de ‘corrimão’ tinha trespassado meu corpo como a espada de um toureiro atravessa um touro. [...] Perdi minha virgindade neste
acidente. [...] E meu corpo se partiu em várias Fridas. [...] Assombroso!(Kahlo, 1995 in LUZ,

"Coluna partida"

"O Hospital Henry Ford"


Durante sua recuperação, dolorosa e quase imperdoável, Frida recebeu dos pais, telas, pincéis, paletas e um espelho no teto, já que permaneceu deitada por um longo tempo. Dedicou-se à pintura do que sentia, como ela mesma colocou diversas vezes, afirmando não ser surrealista, pela concretude do que pintava: seu cotidiano. Autorretratos, verdades nuas e cruas se tornaram sua linguagem mais clara e, portanto, ácida. Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.



Autorretrato

Procurou, após seu parcial restabelecimento, Diego Rivera, a quem confiou a responsabilidade de atar ou desatar seu futuro ao analisar o que pintara: “devo continuar pintando?” Naquele momento, o sonho da medicina fora deixado para trás. Precisava sobreviver e restabelecer o sustento em casa, já que os pais investiram todos os recursos financeiros possíveis para sua recuperação.
O que Diego Rivera, a quem carinhosamente chamava Panzon (Pançudo) trouxe consigo para a vida de Frida foi incomensurável: além da certeza de que deveria continuar pintando, proporcionou a ela o convívio com intelectuais e o compromisso com o Partido Comunista. Apresentou-lhe o amor. Amor que Frida aceitou com a incapacidade de ser fiel de Diego, mas sem abrir mão da lealdade, o que ele lhe prometeu.


"Diego e eu"


Casaram-se em agosto de 1929, ela com 22 anos e ele com 43.   Ao se arrumar para a cerimônia, trocou um vestido de noiva branco por um vestido verde e um xale vermelho nos ombros, não por acaso, as cores da bandeira do México.  Para D. Matilde, mãe de Frida, tratava-se do casamento entre um elefante e uma pomba!



Diego Rivera era líder do Partido e um muralista talentoso, numa época em que murais eram expressões nacionalistas das questões sociais e refletiam o cotidiano e a história do México. Sua habilidade o levou à Nova York, nos EUA, aos quais Frida chamava ironicamente de Gringolândia. Lá, Rivera adaptou-se à burguesia que criticava e dela tirou proveito, porém não abriu mão de seus princípios ao ser pressionado a mudar seu mural pintado no Rockfeller Center (o rosto de Lenin tomou forma por si só!) o que lhe custou a comissão do mural, o cancelamento de todos os outros contratos anteriormente encomendados e uma depressão, em tudo acompanhado por Frida.
Foi na Gringolândia que Frida sofreu um dos abortos que mais lhe feriram. Foi lá que sentiu mais saudades do México. Foi lá que marcou, além de sua solidão no quadro “Meu vestido pendurado ali”, o desprezo que sentia pelo sistema, retratado em uma privada e na sensação de caos que o quadro reserva.

"Meu vestido pendurado ali"


Nos vestidos e no estilo como se vestia, concedeu sua identidade, a identidade do México e a identidade dos povos indígenas astecas. Adornos como anéis, pulseiras e colares registraram sua vaidade, as cores fortes e flores na cabeça sua autenticidade. As tranças eram uma constante, já que mantinha os longos cabelos negros dos quais Diego tanto gostava. Os vestidos tihuana foram usados com propriedade e ousadia por aquela que precisava de uma estratégia para “disfarçar” suas pequenas deficiências na perna. Frida se vestia para pintar. 




Hoje, inúmeras coleções de vestidos e acessórios se inspiram em sua vida, roupas e pensamentos. Pode-se citar aqui Jean Paul Gaultier, Christian Dior e Riccardo Tisci. Ainda Susanne Bisovsky e Maria João Sopa.
Desfile de Cavalera

Coleção da Gucci


Voltaram ao México, onde a percepção de Frida sobre o que viria a ser o 2º maior acidente de sua vida ocorreu. Seu infiel Diego mostra-se, enfim, desleal a ela. Mantém um caso com a irmã de Frida, Cristina. “Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles”. E entrega-se, em sua impotência, aos caprichos ardilosos da bebida que amortece. “Bebo para afogar as mágoas, mas as danadas aprenderam a nadar”. Corta os cabelos, momento colocado no Autorretrato Com os Cabelos Cortados, onde se lê um fragmento de uma canção mexicana, “olha, se te amei foi por teu cabelo; agora que estás careca, já não te amo”.

"Autorretrato com os cabelos cortados"

Ainda separados, em 1937, Diego pede a Frida que hospede Trotsky que, ao romper com o Partido Comunista stalinista, é perseguido por Stalin que o vê como ameaça. Trotsky permanece hospedado pelos Rivera até 1939.
Diego e Frida casaram-se novamente em 1940 e permaneceram juntos até 1954. Deu a Diego, 17 dias antes da comemoração das Bodas de Prata, um anel, sabendo-se próxima à morte. Morreu naquela mesma noite. No seu diário, um último registro: “Espero alegre a saída e espero nunca voltar”.

Algumas últimas notas sobre Frida

Frida leitora, Frida escritora, Frida revolucionária, Frida pintora, Frida mexicana, Frida amante e amada, Frida que chora a vida, Frida que chora a morte, Frida que goza, Frida que dança, Frida inquieta, Frida irreverente. Frida com asas das borboletas que ela própria desenhava em seus coletes de gesso. A Frida do filme, a Frida do diário, a Frida das conjecturas.



Frida e sua arte foram definidas por André Breton, um pintor surrealista que promoveu uma exposição dela em Paris em 1939, como “um laço de fita em torno de uma bomba”.  Frida afirmava, quando inquirida sobre sua sexualidade que aflorava em sua pintura, que homens e mulheres eram “múltiplos, acho que o homem traz o sinal da feminilidade, que a mulher traz o elemento homem, que os dois trazem neles a criança”.
O desejo de compreender Frida, sua dor, sua arte, seu modo de vestir, seu amor por Diego, tem estimulado inúmeros estudos, nas mais diversas áreas do conhecimento: psicanálise, arte, moda, literatura, estudos feministas, história e sociologia são algumas delas.
E, por hora, terminam-se as notas. Termina-se o texto de quem tenta pensar uma mulher complexa, de morte prematura, que resistiu ao imprevisível. Uma mulher que se impôs ao mundo com sua dor, dor que a fez repensar seu lugar, o amor, as pessoas, os mitos, as verdades e as inverdades prováveis.
E chega o momento de conhecer Frida e saber-se Frida. Ela impressiona, ela marca, destrói, constrói e reconstrói modelos e pensamentos a respeito de tudo, qualquer coisa ou nada.
Uma fita em torno de uma bomba? Ou a própria bomba?
E você, o que tem de Frida?


Ana Bernadete de Carvalho Accioly Soares
João Pessoa, 25 de setembro de 2013.
Paraíba, Brasil.



[1] Poema sem data, dado por Diego Rivera a Teresa Proenza Cartas apaixonadas de Frida Kahlo (Zamora, 2006, p. 158)



Referências utilizadas

Alcoba Azul. Interpretação: Lila Downs. Composição: Hernán Bravo Varelo. http://www.youtube.com/watch?v=kdJcruqnyvo

AZZI, Christine. As aparências enganam: Frida Kahlo e a Moda. http://modamodamoda.com.br/as-aparencias-enganam-frida-kahlo-e-a-moda/2012.

Bastos, Marli Miranda; Ribeiro, Maria Anita Carneiro. A sublimação em Frida Kahlo. Revista Travessias nº 2.  Pesquisa em Educação, Cultura, Linguagem e Arte.

CARVALHAES,Cláudio. http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/2921,1.shl

KEHL, Camila. Faculdade de Filosofia. Rio Grande do Sul. http://www.livrosabertos.com.br/2012/09/26/frida-a-biografia-2/

FERNANDES, Fabiano Seixas. O mapa íntimo: três telas de Frida Kahlo. Estudos Feministas, Florianópolis, 16(1): 288, janeiro-abril/2008

Frida, o filme. Direção: Julie Taymor, 2002.

Frida Kahlo. Documentário. History Channel. http://www.youtube.com/watch?v=F5JTGWD9Rk4

Frida Kahlo (1907-1954): Biography A Woman in Rebellion (Documentary). http://www.youtube.com/watch?v=b5c7Sp9iy4A


Gazeta do Povo. Viver Bem. Moda. http://www.gazetadopovo.com.br/viverbem/moda/conteudo.phtml?id=1320793&tit=Frida-Kahlo-estilo-mexicano-que-inspirou-a-moda-internacional

LEVINZON, Gina Khafif. Frida Kahlo e Diego Rivera: paixão e dor. Revista IDE SÃO PAULO, 33 [50] JULHO 2010.

LUZ, Ana Maria Oliveira da. A dor e a criação: Magdalena. Carmen. Frieda. Kahlo. Y Calderón. Cad. Psicanál.-CPRJ, Rio de Janeiro, v. 34, n. 27, p. 25-42, jul./dez. 2012.

Melo, Aísha Kaderrah Dantas. A vida e a obra de Frida Kahlo: inspirações possíveis. Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura. São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 2012.

Pereira, Luís Henrique Ramalho. Frida Kahlo: Arte e Educação. 2º Encontro Ouvindo Coisas.Experimentações sob a ótica do imaginário. Universidade Federal de Santa Maria. 2011.

Reis, Giselle de Souza Viana Soldati; Barzotto, Leoné Astride . Sujeito, identidade e resistência nos escritos de Frida Kahlo. Raído, Dourados, MS, v. 6, n. 12, p 77 - 84 , jul./dez. 2012

SILVA, Leandra. http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/a-segunda-pele-de-frida-kahlo

SOUZA, Ana Maria Alves de. Do pessoal ao político: o movimento revolucionário de Frida Kahlo na carta ao presidente do México. Fazendo Gênero 9. Diásporas, Diversidades, Deslocamentos.

Toledo e Manhas. Frida Kahlo: “um laço de fita em torno de uma bomba”

Zerbato, Natália Bezerra; Estarque, Maya Marx. Frida Kahlo: Figurinista de si mesma. 9o. Colóquio de Moda – Fortaleza (CE). 2013

http://www.fridakahlofans.com/c0120.html

http://bravonline.abril.com.br/materia/frida-khalo-sangue-cores-vivas

* Todos os créditos a Ana Bernadete Accioly Soares da Resenha: Frida, Friducha. Proibida a cópia e divulgação sem expressa autoria de inteiro teor ou partes do mesmo*

3 comentários:

  1. Hoje minha Frida irreverente se fez presente... Saudades de você, irmã!
    Te amo!

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  2. Magnífico seu trabalho! Saudades tb, amanhã estaremos juntinhas, ainda bemmmm! Te amo +!

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  3. Muito legal ter visto meu artigo como referência. Caso tenha interesse, meu trabalho de conclusão de curso foi sobre o traje tehuano, fiz uma pesquisa de campo no México, inclusive Tehuantepec, e tem coisas bastante interessantes! :)

    Meu email: n.zerbato@ymail.com
    Beijo

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